Por que os homens têm tanto medo de mulheres com poder?

Havaí - Beatriz Milhazes 

Tem uma trama na série The Blod Type, disponível na Netflix, que retrata a questão. O personagem é convidado por uma mulher, uma cirurgiã bem sucedida, para sair. Ela comanda: toma a iniciativa, escolhe o restaurante, paga a conta. Ele buga: se sente pequeno, um fracassado. Resolve não dar prosseguimento a paquera.

Tenho discutido com as amigas o quanto é esperado que fiquemos na posição de ser escolhida. A tal da prateleira do amor que a psicóloga Valeska Zanello tanto fala. E o quanto é difícil sairmos desse lugar. Eu não quero ser escolhida, eu quero escolher. O bom mesmo é quando duas pessoas se escolhem ao mesmo tempo, sem tantas neuras. Coisa bem difícil nessa porra de sociedade. Mas o fato é: os caras não sabem lidar com mulheres que escolhem, que têm qualquer grau de poder.

Assisti ao documentário sobre o último ano de trabalho do grande astro dos filmes pornográficos Rocco Siffredi. O grande final foi seu último vídeo com uma das atrizes mais badaladas também em fim de carreira, Kelly Stafford. Rocco é um homem que tem uma vida de bastidores aparentemente normal. Casado, com filhos, mesmo tendo confessado ter traído a mulher compulsivamente por anos. Kelly mora numa fazenda com uma amiga. Não que casar seja uma métrica de sucesso, mas a qual dos dois teve direito ao amor? Qual pode escolher?

Questões de gênero me atravessam desde sempre. Curto muito divagar e produzir sobre. Lembro de um primo da minha avó que dizia que vinho doce era a bebida das mulheres. Ele tomava whisky ou conhaque. A revoltadinha ainda mirim rebatia o comentário machista. Hoje sou cercada de mulheres foda que enchem a cara de whisky, que assustam homens e vivem diversas lacunas com a falta de amor.

A gente quer ser amada, poxa. A gente quer dormir de conchinha, receber cafuné, mimos e muito sexo gostoso. Destruir o machismo passa também pelo entendimento que o amor é para as mulheres, que o amor é divino e salva. Sempre salva! Dos homens que me relacionei mais profundamente, só um não se sentiu pequeno do meu lado. Eu o admirava por muitas questões, mas sua autoestima, sem dúvidas, me encantava.

De modo geral, pelo próprio processo de ascensão feminina, os homens estão muito bugados como escrevi na crônica passada. Já escutei coisas absurdas, tipo: meu pau é pequeno (de vários), eu não leio muito, eu não sou tão inteligente e um monte de coisa mais. Uma tamanha bobagem. Se eu te escolhi, desgraçado, é porque te acho interessante, porque te admiro em algo.

Penso que relações afetivas não deviam ser sobre poder. Não deviam servir para os homens se sentirem mais homens ao subjugar. Numa ocasião, ao receber uma menção honrosa de um trabalho apresentado num congresso, meu ex, também do meio acadêmico, disse que eu estava feliz por bobagem. O prêmio não era nada demais. Obviamente, se sentiu pequeno do meu lado.

Por que vocês acham que nos últimos tempos explodiram um monte de coach ensinando as mulheres a serem mais "femininas"? No caso, submissas mesmo. Apagadas não para assustar homis fracos. Os absurdos são tantos que eles indicam que tenhamos cabelos grandes, usemos vestidos, saias, que nunca, em hipótese nenhuma, convidemos o cara para sair e outras sandices. O pior é um monte de mulher entrar nessa noia. Deem uma passeada no Instagram do ex casal sem vergonha na cara e me digam o que acham.

Homem seguro é tudo! E segurança não é ter poder sobre algo. Sobre  as mulheres. A segurança existe independente de posses, conquistas, títulos acadêmicos. Todos temos nossas belezas, nobrezas, muito além do palpável. Não deixe de ser uma mulher que assusta os caras. Não desça degraus. Eles que lutem para transformar essas cabecinhas cagadas. Estou aqui reclamando de homem mais uma vez não porque os odeie. Os amo muito além da perspectiva afetiva/sexual. Não seria lindo a gente poder construir relações saudáveis? Que tal cortarmos o falo?


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